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Isadora Ignácio Lourenço
Criar Ribeirão Preto

A culpa é de Deus

Assim como o poema "Quadrilha", de Carlos Drummond de Andrade, a culpa assume, na sociedade brasileira, características cíclicas - ou retilíneas. Possuímos o hábito de culpar os outros ou algo maior que nós. Todavia, por que apresentamos essa característica? E, então, a culpa seria de quem?

"João amava Teresa que amava Raimundo / que amava Maria que amava Joaquim que amava..." Do mesmo modo que os participantes da "Quadrilha" amam o seguinte, atribuímos a culpa ao próximo. A situação brasileira anterior aos protestos, por exemplo, correspondia a esse ciclo. A população, insatisfeita com a saúde, com a educação, entre outros, culpa o governo por não solucionar os problemas. Já os governantes dizem fazer todo o possível, mas a população deve ajudar. Seguem, assim, responsabilizando um ao outro.

"... Lili / que não amava ninguém". Ao seguirmos adiante com as acusações, num determinado momento concluiremos não haver culpado. Na "Quadrilha", todos amavam, exceto a Lili. Já na sociedade, todos culpam, mas ninguém se responsabiliza. Devido a essa atitude, partimos para o desconhecido e o geral: Deus e o sistema são os culpados. Tornamo-nos Édipos e Jocastas. Como em "Édipo rei", acreditamos que estamos fadados a determinados atos.

"... e Lili casou com J. Pinto / Fernandes / que não tinha entrado na história." Há pessoas as quais, como Lili que se casou mesmo não amando, vivem em prol dos próprios interesses. São como Virgínia em "Anjo Negro", de Nelson Rodrigues. Essa argumenta sobre aquilo que lhe for conveniente. No final, percebendo que seria substituída pela filha ao lado do marido, culpa tudo e a todos pelo que acontecia (sua substituição). Objetivando mudar os acontecimentos para benefício próprio, engana o marido, prende a filha e não sente remorso.

A culpa é, na realidade, de todos, uma vez que não a assumimos ou por responsabilizarmos o outro. Consequentemente, ela é transformada em um ciclo, visto que ninguém é determinado culpado. A ausência de um responsável acarreta em alguns se aproveitando disso para fins próprios e em outros acusando suas crenças. Vivemos, assim, imersos em uma "Quadrilha" que acusa políticos e familiares, mas na qual a culpa é de Deus.