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Jorge Cocicov Neto
Criar Ribeirão Preto

Variados espectros

"Devia ter arriscado mais / E até errado mais / Ter feito o que eu queria fazer... Devia ter me importado menos com problemas pequenos / Ter morrido de amor"... Lamentações como essa transcendem as estrofes de "Epitáfio", vocalizadas pelos "Titãs", reverberando no coro angustiado de quem se depara com uma história de vida (de)limitada pela falta de ousadia. Vivendo sob o eco de grandes feitos por outros realizados, muitos seguem em suas zonas de conforto sem sequer alçar transcender sua atual insignificância. Outros, no entanto, apropriam-se de motivações das mais diversas origens e engajam-se, ousadamente, em seu processo de superação trocando a mordomia da vida pelo risco do desafio. O que leva, então, o ser humano a expressar tão distintos modos de vida?

A primeira resposta que salta aos olhos mais leigos e, "nitidamente", mais acovardados é a de loucura de quem se arrisca. A força de vontade necessária, o desgaste e os riscos anexos à ousadia, sem mencionar a contundente pressão social, fadigam os músculos atrofiados de quem se reclusa no (persuasivo) comodismo e conforto, próprios da monotonia. Se não bastasse, muitos ainda expressam o medo de encarar as possíveis consequências (tanto positivas, como o "endeusamento" só se tornar um herói; fonte de inspiração e modelo a ser seguido - não podendo mais cometer erros ou falhas; quanto negativas, como retroceder economicamente, errar/falhar/perder em público ou, até mesmo, de simplesmente cair, se machucar).

Sob uma análise mais criteriosa e, obviamente, mais destemida, fica nítido, no entanto, que a opção por um modelo de vida mais ousado e menos monótono em nada tangencia a esfera da loucura. Pelo contrário, tal fato insere-se na utilização de anos de evolução encefálica e aprimoramento com os erros/acertos. Haja vista que hoje é de conhecimento universal que a caminhada da humanidade somente transcendeu o período rupestre das cavernas devido à ousadia de certos trogloditas. Muitos de seus descendentes "diretos" buscam, na atualidade, ratificar seus próprios anseios físicos e mentais engajando-se em perigosos processos de superação.

Anseios esses que vão muito além do singelo desafio de superar a própria escalada física que o alpinista Vitor Negrete se propôs a fazer. Anseios que permeiam por entre os meandros do pretérito/presente na busca pela imortalidade histórica - como bem pontualizado pelo objetivo de esculpir na atemporalidade nome dos vencedores dos Jogos Olímpicos na Grécia antiga. Anseios que datilografam uma contundente projeção sócio-econômica - como grafada pela escalada social e financeira de João Romão em "O Cortiço". Anseios que nutrem a mente e viabilizam novas conquistas/descobertas - como o que "move" Stephen Hawking em seu diário processo de autossuperação humana.

Em meio à incongestão de valores de vida, o Homem, acomodado com seu temor e conformista com sua insignificância, regurgita a intitulação de "loucura" e a fixa nos modelos mais ousados. Os menos temerosos e mais confiantes, por outro lado, bradam suas conquistas e feitos arriscados, evidenciando o progresso e superação que sua ousadia lhes proporcionou. Ousadia essa que tem por geratrizes fortes anseios capazes de retratar pelos mais variados espectros.