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Márcio Massaro Mourani
Criar Ribeirão Preto

Cicatrizes da Tortura

O saco plástico do Capitão Nascimento, o pau de arara, a cadeira de choque... Qualquer um desses instrumentos nos fariam revelar até os mais obscuros segredos ou mudar as mais intrínsecas opiniões. O sentimento de medo torna inconteste o êxito no uso da tortura para confissões e punições. Mas será que apenas por ser eficiente, deveria ser uma realidade aceitável? Pelo contrário. A tortura é prova da animalização do homem e faz-nos questionar se realmente seria possível eliminar tal prática visto que o instinto animalesco do homem não escolhe momento histórico ou espaço para aflorar.

Mesmo com toda evolução técnico-científico que julgamos ter alcançado, ainda assim, no século XXI, a maioria dos utensílios de tortura são essencialmente os mesmos da "Idade das Trevas". Não é pura coincidência. Isso mostra que se julgamos o homem Medieval como incivilizado, então também não superamos a condição não civil - portanto, animalesca - da nossa existência. Sendo assim, aceitar a tortura em pleno século XXI é renunciar conscientemente a qualquer desenvolvimento humano e social.

Para animais tão burros, o que melhor do que um sinal visual para alertar perigo? Por isso, as cicatrizes de um corpo torturado são tão importantes. Esconder a verdade de casos como o de Vladimir Herzog - torturado até a morte durante o regime ditatorial - é perigoso porque perdemos as referências e lembranças da tragédia social causada pela tortura. Neste aspecto a "lei da anistia" é tão perigosa: mão somente porque deixo soltos aqueles torturadores do passado, mas principalmente porque a lei esconde debaixo do tapete as cicatrizes, fato que torna mais susceptível que a tortura volte a ser aceita como forma de dominação de governos.

Tais cicatrizes também fazem-se necessárias, inclusive, porque governos de fachadas democráticas são garantias de respeito ao corpo. Todos sabemos que por trás de seu discurso democrático e de liberdades respeitadas, Obama libera o uso da tortura com a finalidade de avançar as investigações da CIA. Foi dessa maneira que conseguiram localizar Osama Bin Laden. Tal realidade advinda do "grande defensor" da liberdade e democracia deveria causar repugnância, ainda mais quando o mesmo discurso é pretexto para suas intervenções no Oriente Médio colocando em xeque as soberanias nacionais.

Eternas são as cicatrizes físicas e psicológicas deixadas pelo saco, pau de arara, cadeira de choque, dentre outros. Eternas também devem ser nossas lembranças dos males causados pela tortura para que não haja espaço para recidivas daquela essência animal da qual não possuímos controle. O mesmo erro cometido outrora pelos feudais, temos de "engolir" agora vindo de "democracias" com promessas pacificadoras que insistem em brincar com o medo humano mesmo sem justificativa.