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Victor Rassi Mariani
Criar Ribeirão Preto

João Romão, filho de Geppetto

A vida em sociedade, desde os primórdios de sua existência, trouxe consigo um elemento essencial às relações interpessoais: a mentira. Com o evoluir da Humanidade, o artefato modernizou-se, a ponto de gerar indagações no tocante ao limite tolerável que a inverdade pode atingir, dadas as variadas situações em que ocorre.

Indubitavelmente, a existência de informações falsas - ou a omissão de verdadeiras - reflete interesses de quem as profere, que vão de salvaguardar as relações e o bem estar a causar o mal a outrem, passando por sobressair-se. Nessa linha, a mentira apresenta-se de forma benéfica ou maléfica. Bem-vindo é o maquiar da resposta de uma mãe ao seus filho, que diz "não" quando questionado se é feio, mesmo o sendo. Essa mentira não invade, não rouba direitos.

De outra banda, a preocupante mentira é a que penetra na esfera de direitos alheios: é o João Romão de "O Cortiço" levando vantagem em tudo o que faz às custas de manipulações. O executar desse tipo de artimanha tanto é reprovável que, diversas vezes, como no Brasil, estampa-se no Código Penal, por exemplo, nos crimes de calúnia e de estelionato.

Nem tão ao céu, nem tão à Terra, está Brás Cubas em suas Memórias Póstumas, cujos constantes ludíbrios têm, em sua maioria, um único fim: sobressair-se. Isso não requer, na vida prática, tolher direito alheio, o que se torna uma prática de muitos - se não de todos. O que há de comum entre o protagonista da obra machadiana e os executores da "mentira inofensiva" é o fato de levarem em consideração o bom senso (por mais contraditório que pareça) de não ofender o próximo.

Resta claro, assim, que a mentira contada para o bem próprio e alheio é necessária e tolerável, desde que não constitua agressão aos nossos semelhantes e seus respectivos direitos; essa não faz o nariz crescer. Em oposição, a mentira devastadora do universo alheio faz com que o nariz cresça cada vez mais, tendo o pressuposto de que essa é a única parte do corpo (e do mundo) que os propagadores daquela desejam enxergar.