Como falar de beleza e não citar Narciso? Mais belo seria relacioná-la com Heráclito - tudo passa, as pessoas e o mundo mudam, a perfeição de hoje é absoleta amanhã. E para disfarçar o físico e enganar o ego, estão aí os comuns e cansativos brasileiros escravos do ser, escondendo vergonhosamente seu parecer. Eles, amorfos à ação do tempo e ás conseqüências físicas da vida, pensam somente no que há para viver agora. Não querem ver que o rio vai mudar e o parecer também.

O Brasil é um país modificado. Mudou características de sua natureza, mudou a cultura de seu povo primitivo, e hoje muda seus padrões físicos, escravizando-nos em cada carnaval. A culpa não é somente de colonizadores e estrangeiros, culpemos os nativos também, os quais matam animais raros para fazer de suas penas objetos de diferenciação do Pajé. Esse é o peso de ser importante: parecer importante.

A mídia influência os pareceres. Obvio, a televisão, água para o brasileiro típico, é constituída de imagens que são exemplos quase incontestáveis. Então por que lutar contra todos? Esconder no armário o ser e vestir o parecer é mais confortável diante dos olhos esbugalhados e massacrados de nossa sociedade. Sempre se procura o mais fácil caminho para a ascensão social, e no Brasil, país das bundas, é fácil: plástica.

Todos querem ser a fruta a ser escolhida, a primeira. Tristeza é continuar sozinho, parado, esperando os dias passarem na feira e as mãos sujas passarem em sua casca. E inerente à existência, o rio já passou e continuara passando. Basta o ser perceber que não há maior beleza que a simples rosa.

O Brasil exporta beleza, pois sua economia não supera nenhum outro ranking bom no cenário mundial. O país não quer admitir que possua patinhos feios, então apenas mostram os cisnes. Assim vêem-se mais brasileiros alienados, patos andando em círculos em busca de beleza, esperando o tiro da pistola do parque os tirar desse sistema. Estão aguardando a liberdade desta prisão do parecer.