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Muller G. Urias
Criar Ribeirão Preto

O Brasil de Schrödinger

O físico austríaco Erwis Schrödinger realizou observações com gatos dentro de caixas contendo material radioativo que lhe renderam um Prêmio Nobel. Segundo ele, até que o gato fosse visto, ele estaria vivo e morto ao mesmo tempo. O mesmo fato ocorre com o povo brasileiro que dentro de sua apatia e de sua passividade, é dado como um vivo-morto.

Dentro da caixa, há, não um, mas vários materiais nucleares que bombardeiam o gato brasileiro em todo seu espaço. Dentre eles, temos a educação pública precária, as grandes exigências do mercado de trabalho, a remuneração inexpressiva, o sistema de saúde estagnado, a corrupção política, o preconceito e até a própria resignação, que gera uma dita situação padrão e dissemina mais conformismo.

Entretanto, todos esses rádio-isótopos não eliminam a hipótese do gato estar vivo. Movimentos como a Revolução Praieira, como as Diretas Já e como o dos sem-terra são reduzidos a aspirações de, poucos e reacionários, românticos. Independentemente se são ou não são - ou se são ou não são -, esses movimentos foram sinais claros de vitalidade brasileira.

É lastimável que esses sinais sejam escondidos pelo comportamento apático disseminado na sociedade. O brasileiro, não raro, toma as ações individuais como irrisórias e as coletivas como inúteis. Dessa forma, escusa-se das responsabilidades e torna-se livre para criticar (outro hábito arraigado no país), quando, a verdade, deveria chamar para si parte do ônus da situação para responder por ela.

Mas até o momento em que essa postura " blasé" do Brasil seja desfeita, o povo vivo e o morto estarão superpostos, como os gatos do Schrödinger, complacentes com a morte. Até que se trata de uma comparação otimista: segundo a física clássica, os brasileiros já estariam mortos há muito tempo.