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Bruna de Alencar Lupoli
Criar Ribeirão Preto

Poti agora late com controle de volume

No momento em que pisou em terras brasileiras, Martim soube que jamais encontraria alguém como Poti. Guerreiro, forte, valente, sim, mas possuía o dom e a suavidade que lhe conferiam o poder de sentir o que há de mais valioso entre dois humanos: a amizade. Para sempre, em todas as mentes, foi lembrada a eterna cumplicidade e o amor sincero e inquebrantável entre esses dois guerreiros-irmãos.

É difícil, hoje, encontrarmos uma amizade ao menos verdadeira como a descrita por José de Alencar em Iracema. O sentimento puro de suas personagens ultrapassava o "amor ocidental". Compreensão e companheirismo eram as bases de seu relacionamento. Atualmente, amizades como essas são raras, causam preguiça por gastarem tempo e pela necessidade que têm de disponibilidade emocional. Na briga entre o sentimental e o material, o vencedor não nos surpreende... é o capitalismo!

Para poucos, talvez a amizade seja um paradoxo: nunca foi tão valorizada e desvalorizada ao mesmo tempo. Valorizada por ser cada vez mais escasso o sentimento sincero, sem interesses; e desvalorizada por parecer inútil num mundo no qual tudo o que se faz é calculado para sugar da vida alheia alguma forma de ascensão. Ao invés do que é pregado pela mídia, talvez tanta tecnologia tenha atrapalhado as relações sociais. Tudo bem, podemos conversar simultaneamente com mais de uma pessoa em várias partes do mundo, mas uma tela de computador ou um telefone nunca terão o mesmo valor da cumplicidade do contato próximo, de um abraço ou, até mesmo, de um simples olhar carinhoso.

Temos de concordar que o mundo mudou consideravelmente desde que, todos os dias, no meio da tarde, as famílias colocavam cadeiras nas calçadas e passavam o resto do dia confraternizando. Na constante "evolução" em que estamos, os relacionamentos tornam-se mais desgastantes quando se pensa no seu cultivo, mas a noção de, com os mesmos, melhorar de uma forma pura e exclusivamente humana deveria compensar, de longe, os "esforços" para mantê-los. "Falta de tempo" é uma desculpa fácil para quem está no processo de robotização, mas não para os que buscam o auto-conhecimento e o sentido da vida.

Foram-se as épocas em que poderíamos ser Poti e Martim e sentarmos à beira do mar para apenas permanecermos em silêncio, no silêncio solidário, no amor pleno de amizade. Mas podemos criar nossa praia, não podemos desistir da dádiva que foi concedida a apenas nós, seres humanos: sentir de forma racional e não por instinto, semear bons sentimentos e ideais. É uma pena notarmos que, para muitos, se o que se deseja é companheirismo, um cachorro ou uma televisão bastam...