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Marina Lazarini Verzola
Criar Franca

A saga severina

A travessia pelo Atlântico não fora nada agradável. O navio com mais passageiros do que o limite, a comida escassa e condições de higiene inexistentes aumentavam ainda mais a saudade da pátria. A instabilidade na península italiana não deixara escolha para aqueles trabalhadores: era preciso construir a vida longe dali. O Brasil, no auge do ciclo cafeeiro, figurava como porto seguro para as famílias européias.

A saga dos migrantes não se restringe à cena do século XIX. Da era mesopotâmica à atual globalização, a busca por outro território é parte essencial da história humana. O impacto da migração não se dá apenas na mão-de-obra do país, mas também nos aspectos culturais. Não se tomaria chimarrão no Sul e "Brás, Bexiga e Barra Funda" não seria título do Modernismo, se os imigrantes tivessem escolhido outro destino que não o quintal lusitano.

Ao longo das últimas décadas, a situação da ex-colônia sofreu mudanças em relação aos fluxos migratórios. A realidade do terceiro mundo, com baixos salários, serviços públicos precários e dificuldade em conseguir um emprego, faz milhares de severinos sonharem com os "países do Norte". Estados Unidos, Inglaterra, Canadá, Espanha: ser garçonete ou flanelinha em ares desenvolvidos soa melhor do que no subdesenvolvido.

Enquanto alguns rejeitam o colosso latino, outros vêem nele o que os europeus viram um dia. Para quem vive em países mais pobres e excludentes, como Bolívia e Paraguai, a terra brasileira semeia oportunidades inexistentes na pátria-mãe. A estabilidade econômica e política do Brasil, raridade no continente sul-americano, transforma o "american dream" em "brazilian dream" para os vizinhos do gigante.

A migração, antes de ser o abandono do país de origem, é a luta por condições de sobrevivência mais dignas. No contexto da globalização, o adversário, caminhando na contra-mão da integração econômica, encontra-se nas fronteiras geográficas. Os governos dificultam a entrada de imigrantes de todas as formas possíveis (até muros são construídos!). Com muralhas de concreto ou não, há uma certeza: ninguém pode ser condenado por fugir de uma vida severina.