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Thaísa Mayumi Kochi
Criar Franca

Inconstância no carrasco relativo

"Observo-o; ele apenas responde: ‘É inverno, época de colheita’. Fito aqueloutro; ele apenas informa: ‘É hora de levantar’, e ainda relembra: ‘É preciso obedecer ao Seu Osório’. Indago ainda, aquele lá dentro, e, com um sussurro arenoso e acinzentado, ele reclama: ‘Não queria que fosse assim". Assim indicava o calendário, o relógio e o relógio biológico de um imigrante: tentando esquecer seu passado sofrido ele vinha ao Brasil com a intenção de trabalhar, para, no futuro, possuir alguma fortuna. E assim vivia ele, escravo do eterno relativo.

Há aqueles que fazem faculdade para estudar um determinado período do eterno: os historiadores. A cada dia que se passa, o presente vivia passado e mais história a ser analisada. E assim se dá a idéia da fluidez no tempo; os livros de história estão cada vez maiores e em constante mudança. A preocupação do homem em registrar o eterno torna-se-á uma utopia quixotesca, e ele se perdeu em seus próprios livros. Não saberá se ele assinou Kennedy, se defenestrou Isabela ou se casou com Dulcinéia, consumido pela continuidade dos livros.

O argumento utilizado por historiadores é que o estudo do suposto passado ajuda na compreensão de fatos presentes e evitamos cometer erros passados. De fato, o primeiro argumento é válido, visto que só entendemos o atraso econômico brasileiro ao tomarmos conhecimento da colonização portuguesa. Entretanto, se erros já cometidos realmente evitassem que cometêssemos os mesmo erros, o atávico racismo não existiria hoje, já que ao estudarmos o nazismo, achamos absurda a idéia racista contida no mito da raça ariana.

Somos novas vítimas de um velho carrasco; talvez, eterno; pois seus males continuam a surtir efeito. São questões atemporais como o racismo que provam o passado não é passado, pois continua a acontecer ainda hoje e podem continuar no suposto futuro, que não será futuro se os mesmos problemas continuarem em pauta. Em "Todos os fogos o fogo", a sobreposição de épocas distantes leva a um problema e final comum.

Os adeptos do "carpe diem" talvez tenham percebido: o ideal é viver o ponto eterno; porém, o que podem não ter percebido é que estão vivendo o futuro de Camões e o passado de um anônimo ao mesmo tempo que vivem seu próprio presente. O fato de não percebermos tal sincretismo temporal deve-se principalmente à coerção a que estamos sujeitos. Além de aceitarmos regras que desobedecem às nossas próprias regras - "É hora de levantar", mesmo estando com sono - para nos ajustarmos ao sistema capitalista, a maioria permanece eternamente alheia à relatividade do infinito.