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Antônio Castelo Branco de Deus
Criar Ribeirão Preto

Carta ao Presidente Lula

Fortaleza, 10 de setembro de 2004.

Sr. Lula,

Eu votei no senhor. Votei porque, depois de sua vinda por essas bandas, me enchi de esperanças. Com aquele discurso bonito, acreditei que as coisas iam melhorar. Achei que minhas crianças não precisariam mais trabalhar pra pagar nosso sustento. Puro engano.

O senhor é um homem viajado e vivido. Já foi pobre e conhece bem o que é deixar de brincar para trabalhar debaixo de sol forte. Agora que é presidente, o que o sr. Fez para diminuir os enormes índices de trabalho infantil Brasil afora? Até agora, o que eu vejo é o de sempre: crianças e adolescentes fazendo de tudo pelas ruas por alguns trocados.

A elite do nosso país parece não se importar muito. E nem é de se estranhar. Seus filhos andam com roupas caras, com carro do ano guiado pelo motorista muito bem engravatado. Enquanto isso, boa parte dos nossos jovens abandonam a melhor fase de suas vidas para auxiliar os pais e até mesmo para poder sobreviver. Ainda espero que o sr. e seus "companheiros" se lembrem de nós, gente humilde e trabalhadora, que não queremos para os nossos filhos a vida que tivemos.

Faz menos de dois anos que o seu filho foi vítima de assalto, não é, presidente? Será que isso não é um clara demonstração do abismo que separa os jovens marginalizados dos que tem todas as oportunidades? A violência também "emprega" muitas crianças e adolescentes, e o seu filho esteve frente a frente com um jovem como ele, e, talvez, com os mesmos sonhos ainda que "podados" pelas dificuldades que a vida impõe.

Pense em mulheres como eu, sr. Presidente. Sou professora de português em uma escola pública da periferia de Fortaleza. Com o salário, não consigo sustentar dignamente cinco filhos, ainda mais agora que o meu marido perdeu o emprego. Tenho vergonha de não impedir que eles trabalhem nas ruas, mas antes isso do que deixa-los passa fome. No ano passado, perdi uma filha de 16 anos, vítima da AIDS. Sem avisar, ela se prostituía para conseguir juntar algum dinheiro, e, de repente, chegou com a notícia da doença. Pense nisso, Sr. Presidente.

Atenciosamente,
A.G.D.