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Flávio Cruz Ferro
Criar Ribeirão Preto

Badu e o burrinho

Desde as comunidades antigas, o idoso foi colocado no topo da sociedade, aquele que já viveu e tem muito a ensinar. Na sociedade moderna, já não é considerado em primeiro lugar, mas ao menos tem seus direitos garantidos na lei, a obrigação dos jovens em manter-lhes o respeito. Mas o fazem? Não, ou melhor, não em alguns casos. O respeito é muitas vezes questão de renda.

Porém nem sempre foi assim. Nas civilizações de outros tempos, os mais velhos eram líderes, símbolos de prosperidade em vida, de sabedoria e de respeito. Nas tribos indígenas pré-colombianas, o pajé era líder espiritual respeitado e reverenciado por ter sido um bravo guerreiro. Em Roma, o Senado era a instituição máxima, formada por aqueles com a sabedoria de governar. Nesses tempos, o idoso era o Burrinho Pedrês após a travessia do rio, aclamado por seu sucesso e recompensado com conforto.

Contudo, conforme os tempos mudam, as concepções desaparecem. Hoje, com a ascensão do modo individualista de vida, os senhores da sociedade são marginalizados como aqueles que já não produzem mais. São relegados a míseros salários, mesmo com seus altos gastos em fármacos; a asilos, quando não trabalham para o sustento de suas famílias; e ao descaso público. Por isso, surgiu o Estatuto do Idoso e suas idéias pertinentes. Contudo não são praticadas e funcionam como uma lei do Sexagenário, libertando escravos velhos que obviamente não existiam. O Burrinho, assim, nunca completa sua travessia e não consegue capim, nem a gratidão de Badu.

Entretanto há aqueles de sorte, setes-de-ouros que descansam calorosamente entre as vacas no celeiro. Na vida real, a questão não é sorte e sim dinheiro. Os que prosperaram na vida e conseguiram a riqueza material são recompensados na velhice com lazer, cultura, descanso, tudo merecido a alguém que tanto colaborou. Mas por que só para esses o direito do estatuto é concedido? Por que banqueiros aposentados são mais dignos que os lixeiros cansados? A sociedade, Badu carregado pela classe senil, é interesseira.

Há uma mudança de significados quando tratamos do idoso através dos tempos. Antes eram respeitados e admirados por sua experiência e sabedoria. Atualmente para isso, precisamos de leis, as quais não cumprimos. A sociedade monetária já tem seu próprio método de seleção: os ricos são recompensados pela vida de esforço, enquanto os pobres são ignorados em seu cansaço. O mesmo Burrinho é ora contemplado, ora desprezado pelo mesmo Badu, ingrato que lhe deve a vida.