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Bruna de Alencar C. Lupoli
Criar Ribeirão Preto

Capitães

Bala, Sem-Pernas e Professores, juntamente com os outros meninos do trapiche, compunham o famigerado grupo dos Capitães da Areia. Ladrõezinhos, malandros, mal-vestidos ou imundos eram como denominavam-nos. Viviam como adultos, agiam como adultos, e sua luta era por sobrevivência. Antes de tudo, eram crianças, meninos de rua, sem nenhuma esperança ou oportunidade, mas capitães do seu universo paralelo à realidade social.

O livro de Jorge Amado evidencia um grupo de jovens moradores de rua do Nordeste brasileiro. Não é raro encarar tal situação nas grandes e médias cidades de todo o país. A ausência de expectativas e espaço para tais indivíduos dentro da sociedade convencional exclui-os do processo de cidadania: Miseráveis, desiludidos ou psicologicamente abalados encontram nas ruas sua "insegura segurança", delegando ao meio e aos seus companheiros a função de sua sociedade paralela, seu submundo acolhedor, seu trapiche.

Seu cotidiano é baseado na sorte do dia, ainda que contenha alguma rotina: mendigar, trabalhar ou apenas meditar são opções do dia-a-dia de "uma mente escravizada" pela exclusão. O desenvolvimento de arte caminha ao lado do uso de drogas, do abandono da família, da insalubridade, da miséria. Não pensemos que apenas os indivíduos sem formação habitam as ruas, 20% desses possuem curso superior. Para participar desse universo, basta não se encaixar no sistema ou não ter possibilidades de tentar.

Muitos pregam a "operação limpeza" para "aliviar" as ruas de tal "pressão demográfica" indesejada. O despejo das pessoas em albergues e orfanatos é eficiente por, no máximo algumas horas. A sensação de prisão e frieza é acentuada em locais tão impessoais. Apesar de situarem-se nos logradouros da cidade, seus habitantes constroem lares, vivem, muitas vezes, em conjunto, protegem-se entre si. Um prato de comida e alguns minutos de conversa valem mais que um "teto" frio e solitário.

Assim como, no livro, os garotos seguiram seu caminho auxiliados por pessoas de fora do trapiche, os habitantes de rua devem ter ajudas governamentais e sociais. A inclusão das pessoas inicia-se a partir do momento em que são notadas não como um entrave na paisagem, mas como cidadãos. Uma vez incluídos, tais "mendigos" podem decidir tornarem-se professores, malandros ou padres - deixam de ser escravizados e exercem plenamente o seu livre-arbítrio, ainda capitães do seu destino.