Para quem acredita que a era dos "e-mails" destruiu relacionamentos verdadeiros, aqui vai a minha contestação. Um amigo é e será sempre valorizado na vida de qualquer pessoa. Com encontros apenas nas férias de fim de ano, nos intervalos para o café da repartição ou todo dia no jantar, a amizade permanece como sentimento vital para o ser humano. Companheirismo, amor, carinho "remédio" para a solidão, "pé no chão" ou "alguém que finalmente lhe diz a verdade" são características daquele com que não conseguimos viver sem: o amigo.

Honestamente, não há quem consiga dizer que conta com mais de três ou quatro amigos. Ao contrário do que se pensa, isso não é culpa do "mundo globalizado-rápido-desumano"; desde sempre, não são muitas pessoas que são capazes de confiar e se machucar quando é inevitável. Amigo é aquele que não mede a intensidade do sentimento, amigos são aqueles três ou quatro ou menos (mas nunca nenhum) que, após anos sem notícias, ainda ficam emocionados e vibram com o nosso sucesso ou sofrem profundamente com a nossa angústia.

Quando fica difícil conciliar trabalho, família e atenção para os "amigos", algo está errado. Saímos de casa, estudamos em escolas diferentes, vamos para a faculdade, nesse ínterim, acreditamos que cada pessoa com que tivemos grande afinidade é um amigo que deve ser cultivado. Acreditamos sim, até que chegam as cobranças de ligações e encontros fracassados no fim de semana. Esses não passam de colegas de quem nos lembraremos com carinho, mas não aqueles para quem ligaremos para contar os mais significativos momentos da vida quando estamos longe.

Amigo não precisa ser conhecido na infância ou na faculdade, pode ser de uma hora no ônibus ou no congestionamento. Amigo, para mim, é certeza que não pode ser comparada simplesmente à alegria dos momentos de diversão. Amigo é aquele que vale a pena, mesmo quando se encontra apenas no fim da vida. Amigo dá sentido às coisas, ajuda-nos a superar problemas, sente nossos sentimentos com uma intensidade por vezes maior que a nossa.

As férias acabaram, cada um foi para a sua cidade, seus problemas, seus novos amigos. Não fico triste em pensar que esse é um pequeno esboço do que acontecerá durante toda a vida; fico feliz em pensar no reencontro, nos nossos hábitos peculiares, nas lembranças, nas próximas férias. Ainda que tudo isso volte a acontecer apenas no plano das ideias; valeu a pena ter aqueles três ou quatro seres tão especiais que me aceitaram como um de seus três ou quatro.