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Viviane Martoni
Criar Ribeirão Preto

Olhos Reluzentes

Marcelo é um cara normal. Não é muito gordo, não é muito magro. Nem muito baixo, nem muito alto. Tem os cabelos curtos, sempre bem cortados na barbearia da esquina; os olhos castanhos, um sorriso simpático. Não é muito bonito, mas tem um coração de dar inveja a qualquer beata.

É amante da noite. Nada mal para um entregador de pizzas. Vive em cima de uma moto (seu "esporte" favorito, por sinal), tira suas gorjetas e ainda paquera a namorada dos outros, sem ser visto por baixo do capacete. Vida boa, essa a do Marcelo. Mas alguma coisa ainda lhe faltava...

"Satisfações pessoal! É isso ! "Foi o que ele disse ao Caio, outro funcionário da pizzaria, antes de sair cantando os pneu de sua Honda Bis. Seu expediente já havia terminado e ele parecia saber certamente onde encontraria essa tal "satisfação". Mas Marcelo não sabia...Apenas estava em busca de algo realmente interessante.

Era noite, a cidade dormia. Não havia os engarrafamentos de antes, as buzinas, as pessoas...A arquitetura imponente daqueles grandes prédios do centro de São Paulo, agora pareciam frágeis. Naquele momento, ele estava envolvido num ambiente onírico e sentia um conforto sentimental. De repente, viu algo que considerou o clímax daquela noite.

A cena derreteu seu enorme coração. Marcelo estava certo de que encontrara a satisfação que tanto procurava. Foi a primeira vê que se deu conta do quanto realmente aquilo lhe fazia falta.

Deu meia volta com sua Bis e aproximou-se daquela cena fantástica. Uma perua Kombi amarela-ouro estacionada em frente à praça da Sé chamava a atenção de inúmeros moradores de rua.

Eram mendigo, crianças, mulheres grávidas...quase todo descalço, com aparência animalesca e um olhar, contradizendo o esperado, iluminado. Sim...o amarelo-ouro da Kombi parecia reluzir aqueles olhos famintos.

Marcelo aproximou-se u pouco mais e pôde comprovar o que estava se passando. As portas da perua estavam abertas e dentro do automóvel, duas gigantescas panelas de sopa, das quais exalava um odor agradável, convidando o estômago do rapa\. Havia também, um grupo de pessoas de aparências diversas, que serviam aquela sopa aos mendigos. Marcelo observava, atento.

Quando o último mendigo serviu-se, ele passou a conversar com aquele grupo de pessoas. Eram médicos, atendentes, bancário, domésticas. Todos com o mesmo intuito: ajudar o próximo.

Marcelo estava certo de que encontrara o que tanto procurava. Passou a fazer parte desse grupo de voluntários, donos de um coração ainda maior que o seu.

Agora, ele vê a cidade com outros olhos. Os mesmos olhos dos mendigos ou como ele mesmo diz, amigos, quando vêem aquela sopa quentinha...olhos reluzentes como ouro.