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Ricaro Okada Nakaghi
Criar Ribeirão Preto

Determinismo Suicida

O escorpião, sem saber nadar, sugere ao sapo que o carregue em suas costas ao atravessar o rio. Mesmo desconfiado, o sapo ajuda-o e acaba recebendo uma ferroada. Vendo que ambos iriam morrer, o escorpião diz que não conseguiu controlar sua natureza. A fábula é uma metáfora do mais vil sentimento humano: A traição. Um tema complexo que envolve questões culturais, psicológicas, biológicas, sociais em relacionamentos amorosos, de amizade e políticos.

Como na fábula, na vida amorosa se diz que a traição é inerente ao homem, Somos taxados por uma visão naturalista - determinista de que esse sentimento é inevitável, desvalorizando nosso livre arbítrio de raciocinar e escolher. Mas por que Norminha de "Caminho da Índia" trai o marido mesmo em momentos de paz? Na "paz armada sentimental", com relacionamentos superficiais e efêmeros, as traições tornam-se constantes, irracionais, por falta de credibilidade e entrega amorosa.

Em momentos de tormentos, desiludidos, há muito mais falta de fidelidade. Atordoado em "atar as duas pontas da vida", Bentinho traiu vários relacionamentos para provar o possível adultério de Capitu: Descumpriu a promessa de Dona Glória, sentiu-se atraído por Sancha, não confiou na amizade de Escobar e desejou envenenar o próprio filho. Em momentos conturbados, em que a emoção supera a razão, não controlamos nossos instintos, como o escorpião, traindo pelas costas.

A impunidade alimenta culturalmente o ato ilícito. Muitos homens são vangloriados por serem "galinhas". Acostumados com o "rouba, mas faz", políticos corruptos desrespeitam a confiança do povo, desviando verbas e apoiando qualquer um que estiver no poder, como o "PMDB". Em momentos de guerra, a traição é amplamente praticada por interesses políticos, estratégicos e premiada com a vitória, não moral, como a Itália na Primeira Guerra Mundial que em 1915 passou a Tríplice Entente, que venceu a Tríplice Aliança em 1918.

Em tempos de paz, de tormentos ou de guerra, a traição é amplamente praticada. Esse ordinário sentimento humano não deve ser explicado apenas pelo instinto, mas por fatores culturais, psicológicos, sociais. Diferentemente do escorpião, o homem tem a razão e o livre-arbítrio para controlar a emoção, valorizar os relacionamentos afetivos e políticos, exaltando a lealdade, a fidelidade. Agindo apenas por instinto, estaremos suicidando nossa sociedade humana, como na fábula.