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Patrícia Marteleto Scanavez
Criar Ribeirão Preto

Rémy, Calabar, Sarney - elogios às traições?

A traição é o mais enojador sentimento humano, visto que ao praticá-la não só causamos ódio e indignação no próximo, como também uma inconsciente auto-identificação dele, acarretando sofrimento e náuseas. Ao longo da História, o homem viveu traindo. "A mão que afaga é a mesma que apedreja" - diria Augusto dos Anjos. Sim, esse sentimento é inerente à natureza humana.

No filme francês "O declínio do Império Americano", a personagem Louise foi amplamente traída. Apunhalada pelas suas amigas que a traíram com seu marido e enganada por ele durante 30 anos, ela descobriu a vileza do "bom selvagem". Suas colegas o fizeram por egoísmo, problemas existenciais; mas Rémy o fez por fazer, já que afirmava ter um casamento feliz. Pela felicidade ou infelicidade, somos desleais; porque algum dia temos de sê-lo. É programado e inevitável.

Mas fora do contexto pessoal, existem traições em níveis populacionais. Calabar ajudou os holandeses durante a Insurreição Pernambucana, sendo acusado de traidor da pátria. Pátria? Ele delatava uma identidade nacional em formação. Há traições elogiáveis? Para alguns, é questão de olhar por outra perspectiva. Em tempos de guerra, trair é sobrevivência, interesse ou egocentrismo?

Entretanto, também apunhalamos em tempos de paz. Ao praticar o Nepotismo, acusar jornais de nazismo, ser privilegiado pelo presidente; José Sarney desencadea uma crise no Senado, provando que mesmo na tranquilidade que deveria ser a democracia, há sempre quem vilipendia instituições e princípios.

Rémy traía constantemente Louise, apesar de afirmar aos seus amigos ter um casamento feliz. Calabar ajudou os holandeses, mesmo sendo um brasileiro. Já Sarney foi desleal à democracia, instituição que deveria enaltecer. Sim, vivemos traindo. Seja em época de tormentos e tranquilidades interiores e exteriores, a traição é intrínseca ao homem e desenha a sua face mais vil.