MELHORES REDAÇÕES DE ALUNOS

Beatriz A. Olivon
Criar Ribeirão Preto

Rascunho

Eu tenho medo. Pronto, fim da história, esse é o meu destino. Começo pelo fim, como Brás Cubras, que é mais parecido comigo que Moíses (muito "heroizinho bíblico" ao meu ver). Como eu não tenho com quem conversar e me surgiram umas idéias, eu escrevo, também porque eu não sou um bom ouvinte de mim mesmo: impociente, desatento, irritado, menino com nós nas pontas da barba, sujo e modesto (se bem que se qualificar modesto é um paradoxo). Agora, da mesa da sacada eu observo os porto- retratos com fotos antigas, minha ex-mulher, meus pais,..., eu quando criança em um cavalo, e depois eu amarrando um cavalo, quando adolescente (primeiro parágrafo cumprido, me caracterizei e cheguei no ponto para desenvolver).

Quando criança fui com meus paus a uma fazenda, e resolveram que eu andaria a cavalo. Eu não quis, menti que estava cansado, mas tive era medo do cavalo. Só depois de muita ajuda e amolação eu subi. Quando adolescente voltei na fazenda e fui, bonachão chão, andar a cavalo novamente. Cai feio. Foi feio porque foi culpa minha, tinha gente olhando e eu não me machuquei o suficiente para ser emocionante. Depois disso eu engoli minhas lágrimas, e nunca mais andei a cavalo. Não por medo de cair, mas por medo de me machucar e me envergonhar de novo. Eu não me importo com a vergonha alheia, só com o que eu sinto de mim.(8 linhas - bom, deu uma enrolada).

Quando adulto eu descobri a civilização. E fui dirigir. Dorigo bem até , meio daltonicamente segundo alguns, mas bem. Até bater o carro. Batidinha de nada, só riscou, e junto com a conta do conserto veio o medo, e eu nunca mais dirigi. Quem dirigia pra mim era minha ex-mulher, enquanto não havia prefixo no seu substantivo. Essa duas letras só passaram a existir quando ela me traiu, dizia que estava trabalhando, claro que estava, como prostituta com o vizinho de cima. E ela, que sempre soube que eu concordo com Dom Casmurro, nunca tentou desmentir o medo de encontrar de novo, eu não casei mais. (Falar para ver o advogado que eu citei ela ver se dá processo)

Hoje eu Vico sozinho comigo mesmo, num apartamento vazio e desvalorizado, porque também tenho medo de assalto desde que um casal amigo foi assaltado. Agora coleciono rótulos das nomeações que os outros dão. "Covarde", "Mentiroso" e"fraco" são os mais freqüentes. Eu os guardo em pequenas caixas mentais, que só abro quando preciso: "educado" para o emprego, "sensível" para as mulheres e "sincero" quanto escrevo. Nunca sou eu mesmo, por medo de descobrir antes de mim o que sou (rever esse negócio de medo, ver se não ta maçante e se ta muito de mulherzinha esse negócio de me descobrir).

Essa é a minha conversa com o papel, a conversa de um homem que deixou seu destino (ser medroso), dominá-lo. Quando criança eu não me sabia medroso, agora sei, e sei que, quanto não quis montar no cavalo, pela primeira vez, já sabia da minha covardia inconscientemente. Eu podia ter controlado esse medo e dominado meu destino, mas não consegui, tive medo de controlá-lo. E hoje converso com papel, por falta de companhia (Falar para Neusa jogar no ap. 63 - Saulo, editor, sujar antes para parecer que foi o vento, digitar e reler - ver os "quês", ABL aí vou eu!!).