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Mariana dos Santos Martins Camargo
Criar Ribeirão Preto

SEM TÍTULO

Não sejamos óbvios ao imaginar que o cerne da obviedade encontra-se no ditado: "ver para crer". Mas esse modelo se multiplicou prodigiosamente como os peixes do Senhor a ponto de uns acreditarem que Riobaldo apenas viu o óbvio em Diadorim. Pelo contrário, se o tivesse feito ultrapassaria seu "Cabra Macho do Sertão" a fim de reencontrar nos traços, gestos e sentimentos do homem Diadorim, a mulher por quem se apaixonara. Essa tendência de considerar óbvio só o que está ao alcance dos olhos cresce deformada. Deformada e atrasada e categorizada. Talvez porque o óbvio de cada ser esteja intimamente ligado ao grau de conhecimento, evolução, ás verdade que admite para si como reais. E por que não sua própria experiência de vida?

Digo experiência pois, imaginemos uma montanha-russa. O carrinho vai subindo e lá embaixo tudo ainda menor, somente o campo visual está maior. O carrinho sobe mais e consigo um súbito frio na barriga. E de repente, boom! O carrinho despenca e aquela visão ampla de tudo e de todos é esmagada pela velocidade e quantidade de informações. Por isso, o saber também é atroz. Há aqueles que se deixam ludibriar pelo simples rótulo: "Aprenda com os mais velhos, são experientes. Eles sabem das coisas"! O cerne da obviedade também é esmagado nesse momento. Ora, o sábio é o encapsulado por restrições sociais, materiais, políticos ou, religiosos. Se o óbvio é o simples e o não rotulado, como filtrar o acúmulo do saber para extrair a primazia?

Há séculos, certo alguém sentou-se e observou o Sol: contornava o céu. Creio que fora um tanto difícil extrair o óbvio desse feito; era óbvio que a Terra girava no seu próprio eixo e o Sol transladava a Terra, não? Também é óbvio que a condição básica para a felicidade é o fantasma da liberdade? E que a liberdade é um fantasma, é óbvio? É óbvio que Deus não existe? Há uma pedra no meio do caminho. É mesmo óbvio que no meio do caminho há uma pedra? Tudo é relativo, não? Portanto, "é óbvio" que o óbvio é questionável. Relaciona-se com as verdades que admitimos a nós mesmos como reais e relaciona-se com o nosso grau de conhecimento, de evolução. Descrever o óbvio é uma arte difícil.

Já sabemos que essa arte é uma orgia popular. Nossa geração de 50, dentro da geração modernista preocupou-se demasiadamente com o surgimento da televisão no Brasil. Acreditavam que desmereceriam sua arte com o poder da imagem televisiva. O que antes ocorreu também com pintores, os quais, de início, tornaram-se meros concorrentes da máquina fotográfica. Dentro da obviedade, tais preocupações surgiriam. Logo, descrever o óbvio é uma orgia popular. Por outros olhos, são descrições ocas da conclusão mais fácil, mas não é sempre que o mais fácil é o mais simples. O óbvio poderia encaixar-se na simplicidade de atribuir a esses artistas novas concepções, talvez não sujeitas ou limitadas à realidade.

A montanha russa do saber. O questionamento do óbvio; A orgia popular; Questões que esfacelam o velho ditado: "ver para crer". Crer no óbvio. Crer nos rótulos. Crer no fácil. Questões que esfacelam a primazia do saber. Assim, fica vidente a importância de se questionar aquilo que aparentemente é óbvio, é claro que considerando as concepções diversas que nós seres humanos possuímos. Além disso, não há fundamentos para concretizarmos um óbvio universal, visto que a cada um são submetidos processos diferentes de mundo, como Riobaldo e Diadorim. Talvez se, mais alguns momentos lhe fossem concedidos Riobaldo enxergaria além-mar, além do seu óbvio.