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Lílian Darlene Belotti
Criar Ribeirão Preto

Como enveredar num tabuleiro de xadrez?

Não estamos num trem, hoje, em que a sociedade vivia passando por curvas nas ferrovias e com estações do ano bem marcadas. Atualmente, vivemos em um barco no mar sem curvas, sem referências e à procura de uma estrela para nos guiar. O pensamento é o único instrumento possível para encontrar esse astro no imenso oceano de relações sociais em que prevalece o império das subjetividades alterdirigidas: o eu é influenciado pelo meio e feito para os outros.

Nos invernos rigorosos que permeavam a década de 1980, os trens passavam por ferrovias sinuosas e o Muro de Berlim dividia o planeta e as sociedades em socialistas e capitalistas. Com a destruição física dessa divisão, o mundo ficou perdido. O que poderia edificar as bases dessa nova sociedade? A resposta imediata foi o avanço da globalização sustentado pelo desenvolvimento tecnológico financiado pelo capitalismo. As relações diplomáticas entre países se tornaram dinâmicas e o trem perdeu espaço para veículos automotivos e aviões. Os homens aboliram a separação bipolar.

Nos verões, primaveras, outonos e invernos seguintes, a humanidade não mais se prostrou diante das condições da natureza. Melhoramentos genéticos fizeram árvores e outros vegetais produzirem frutos pelo ano todo. O que não foi possível alterar geneticamente foi a indecisão dos jovens quanto aos dilemas da juventude atual. A necessidade de uma referência que os norteie transformou essa faixa etária, não raro, em sinônimo de complexidade, rebeldia e incompreensão. Como explicar a pessoas que nasceram depois das militâncias de Lula o mérito deste para ocupar o cargo atual? Como afirmar que Luís Inácio é nosso "profeta" já que "Deus é brasileiro"?

Não há referências atuais significativas para os mais novos se espelharem. Talvez Harry Potter fosse um modelo jovem, mas ele nem existe. A sexualidade é um outro dilema. Ela viria conforme a cultura e não se limita ao ato sexual. Engloba os afetos, as emoções, as sensações. Vivemos em uma sociedade hedonista que cultua o prazer fugaz e modelos esculturais que impõem uma ditadura da beleza entre adolescentes e discrimina quem foge ao padrão, transformando o ser em verdadeira vitrine virtual, pois vivem da imagem. A massa ideológica jovem nunca foi tão pasteurizada quanto nestes tempos de competição por uma estrela guia, entre siglas insípidas, colores e inodoras, que garanta uma reafirmação e autopromoção do eu.

As estrelas do céu estão morrendo, apagando. A juventude, presa a um barco em alto-mar, busca incessantemente pelo brilho de um astro que possa guiá-la. Porém, o deslocamento de eixos da embarcação e a transformação de caráter promovida pela sociedade que não defere culturas diferentes e impõe imagens lucrativas, "Tegucigolpes" e regulamenta quais as regras do tabuleiro da Justiça, levam à formação de jovens narcísicos com ânsias de exibição e altivos demais para saber, de fato, o que é a miséria, a fome, a guerra e principalmente o que é ser o arrais da própria embarcação.