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Lílian Darlene Belotti
Criar Ribeirão Preto

Espetaculândia: onde o espetáculo pode parar

Uma consideração do tipo shakespeariana diria que há mais coisas entre a celebridade e a realização pessoal do que sonha nossa vã filosofia. De fato, o tempo passa cada vez mais rápido e são muitos os eventos que nos seduzem. Procuramos gulosamente ingerir tudo que a vida nos oferece em seu "buffet". Antigamente, consumiam os melhores pratos quem nascia numa família nobre. No decorrer dos anos, a meritocracia privilegiou os mais ricos. Hoje, a fama tornou-se requisito necessário para ter direito às refeições mais refinadas. Nesse compêndio, os condimentos primorosos escamoteiam o verdadeiro aspecto de alimento simples e de fácil acesso na natureza.

Assim como o "buffet", a posição na sociedade engendrou as relações sociais e selecionou iniquamente os mais aptos a sobreviverem, num verdadeiro darwirismo social, em determinada época. As pessoas mais pobres reuniam a família toda para confraternizar e participar de um grande banquete, com receitas próprias de alimentos baratos, muitas vezes colhidos nos jardins das próprias casas. Enquanto isso, reis e nobres eram os "escolhidos" para saborear iguarias. Decerto, surgiu a república no contexto da Revolução Francesa, com uma burguesia rica o suficiente para coibir os desmandos absolutistas e participar de jantares refinados.

A era atual de espetacularização cerceou a meritocracia e levou a confluência da massificação e midiatização a um escopo social: ter fama para ser o destaque e a referência para sucessos e fracassos pessoais. Nesse "buffet" contemporâneo, os aperitivos têm o poder de abrir o apetite. Se estes forem bebidas, por exemplo, podem produzir uma instantânea felicidade. Assim é a fama, um aperitivo que produz alguns reconhecimentos imediatos. Contudo, não raro, é incapaz de suprir a fome e as necessidades pessoais de obter uma carreira célebre e eterna, encontrar um amor verdadeiro e desvinculado de interesses vis. Apenas fomentam a busca por mais comida, mais notoriedade e seguem com atitude casmurra, teimosa, de aceitar as aparências como critério de seleção.

Destarte, em meio a tantas porções queremos comer de tudo. Isso pode provocar perturbações digestivas mais amenas ou até mais graves. As pessoas têm necessidade de aparecer e sentir-se importantes, mas isso pode desvelar também a vida pessoal e estabelecer uma ditadura coercitiva de beleza e comportamento. O prazer de ser famoso nos ensina o que é importante para uma determinada carreira: a satisfação de ser modelo anula o deleite de alimentar-se aleatoriamente, ser o presidente de um país invalida a liberdade de ir e vir sem ser notado. A fama exige renúncias sem deferências às precisões pessoais, como uma doença, uma síndrome de Truman sustentada pela tecnologia.

Desta forma, é preciso ser seletivo para degustar aquilo que realmente desejamos e não porque é requintado. A vida deve ser levada com sabedoria e, consequentemente, não ser estragada pela loucura de aparecer sempre. Precisamos ir rumo à concha interior, correspondente a uma atitude pragmática quanto ao que almejamos pessoal e profissionalmente. Tudo, para evitar nos tornarmos mais um produto pasteurizado ou um boneco nas prateleiras das lojas.