MELHORES REDAÇÕES DE ALUNOS

Fabiana I. Alfredo
Criar - AS REDAÇÕES NOTA 10 NO VESTIBULAR 2005

Eterna "rádio-relógio"

A realidade contemporânea se depara a cada dia com uma nova invenção: computadores cibernéticos,descobertas grandiloqüentes, parafernalhas modernas. Invenções ultra-avançadas que estariam por extingüir tudo o que exalasse aromas fétidos do passado. Certo? Não, errado. Uma invenção como o rádio, vista pelos olhares do desenvolvimento como um tanto que ultrapassada, se redesenha e ganha novos contornos em pleno século XIX, sem perder sua onipotência e onipresença no cotidiano das pessoas. Somos verdadeiras "Macabéas", que se encantam e surpreendem a cada voz vinda da "rádio-relógio".

O resgate histórico dessa invenção humana reafirma o seu papel durante as décadas. Foi ícone de uma nova sociedade e de um novo sistema que se fortalecia. Invadia milhares de casas e aguçava ouvidos impacientes com notícias da Segunda Guerra Mundial ou do capítulo decisivo da rádio-novela. Embalava sonhos de mocinhas ingênuas, discutia políticas nacionais e internacionais e vendia o mais novo produto do "american-way-of-life". Creme rugol, beba coca-cola, ou Gessy para os seus dentes, se misturavam com o número de mortos no "front" de batalha e com a nova desvalorização do café. Alcançava milhares de pessoas em minutos e indicava o início da eliminação de fronteiras que estaria por vir.

Com o passar dos anos, essa "caixinha com voz" se modernizou. Novos meios para trocar sua velha bateria por recarregadores mais ágeis e duradouros e o mais novo "design" com botões avançados e luzes policromáticas fazem parte da sua estrutura. Tudo isso para tentar combater sua mais nova e supostamente potente inimiga: a televisão. Parecia o fim dessa invenção, mas surpreendentemente ela teve sua "meia-vida" prolongada. Talvez porque ainda o mistério de uma voz não personificada e memórias sentimentais ativadas com o soar de uma melodia, redesenham o homem moderno.

Atualmente, no Brasil, o rádio sofre influências desde a sua programação até o seu repertório musical. Possui emissoras que exemplificam claramente as disparidades sociais e intelectuais do país. Emissoras com músicas de "classe" para bons apreciadores, resumo das novelas para as donas-de-casa, o mais novo pagode para o clã da classe média. Infelizmente, ele foi agarrado pelos tentáculos de um sistema que dividiu as pessoas e seus modos de vida. É só correr o dedo por um botão e nos deparamos com horóscopos, mensagens de amor, receitas culinárias e até cultos religiosos. Uma vasta gama de entretenimento para uma vasta sociedade. E ainda insistem com: "Em Brasília, dezenove horas". Eis que o "corre-corre" para procurar uma emissora não adepta à "Voz do Brasil" se inicia. Ilusão dos trópicos.

A verdade é que essa criação secular pode ser exemplo de que novos contornos dados a invenções antigas do homem, podem e devem ser feitos. O rádio atinge lugares onde a modernidade nem sonhou em alcançar e é ainda um meio de comunicação, entretenimento, de lucro para informes publicitários e produtos. Seja por cacofonias ou notícias, se fortalece na vida humana. "Nocauteia" bugigangas tecnológicas em cada "round" do avanço moderno. A "rádio-relógio" se eterniza através de suas horas e minutos a expressar e as modernas "Macabéas" ainda se encantarão por muito tempo a cada soar da caixinha-preta.