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Micheli Martesi dos Santos
Criar São Carlos

O tempo de Macunaíma

A quarta dimensão faz do homem um ser superior. Somos os únicos seres capazes de viver em três tempos simultaneamente - presente, passado e futuro - de forma a manipulá-lo conforme nossas necessidades. Usamos experiências vividas no passado para projetar no futuro um presente afim. Assim, como brasileiro que somos, vivemos ao modo de Macunaíma, o herói sem nenhum caráter, que se relaciona com um tempo indefinido representando o brasileiro de todas as épocas.

Mas algo que é característico do homem de todas elas é ter o passado como parâmetro. É normal querermos nos firmar em algo que já teve seus resultados apurados, de forma a nos dar mais segurança. Essa experiência é um tipo de intertextualidade em que nos inspiramos no velho para recriar o novo, deixando a "ferrugem" influenciar em nossos atos. Utilizamos o mesmo processo usado um dia por Camões. "Sete anos de pastor Jacó servia" foi a inspiração bíblica que fez um pouco mais desse português um grande poeta. Assim, o passado é uma espécie de fortaleza que nos dá a certeza de nossos sucessos.

Inconscientemente; ao realizar esse processo, estamos construindo nosso futuro. E é este que motiva o homem a viver. Ele trabalha hoje com o pensamento do que irá comprar com seu salário. A criança ao fazer uma bagunça pensa no castigo que receberá dos pais. E o vestibulando estuda com o objetivo de se tornar um profissional diplomado. Assim, Chico Buarque ao compor a canção Futuros amantes tem razão em dizer "não se afobe não, que nada é pra já".

E realmente não é. O presente só serve para existirmos e é a conseqüência do passado e a causa de um futuro. Assim, se vivermos nele plenamente, se seguirmos a filosofia do "carpe diem", podemos perder o título de seres racionais, pois viver no hoje é possuir a inteligência concreta, característica dos animais. Ser homem, entretanto, é ter uma inteligência abstrata que nos projeta e nos alerta sobre o futuro.

Logo, não existe uma concepção de tempo que deva ser seguida como verdade suprema. Como Macunaíma, devemos ter a capacidade de transitar neste universo indefinido. Deveríamos representar a arte cubista em que todas as dimensões estão dispostas em um mesmo plano. Assim, na obra "As senhoritas de Avinhão" de Pablo Picasso, teríamos a apreensão de um passado definido ao entendermos que os seres representados são mulheres. O indefinível da obra seria um futuro que desconhecemos, mas tentamos projetar. A obra por completo seria o presente, pois este não existe sem os extremos do tempo, já que ele é conseqüência e causa do que foi e do que será.