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Deborah Moraes Gonçalves
Criar Ribeirão Preto

Que seja infinito enquanto dure

De tudo ao seu amor foi atento. Não só de poemas e diplomacia viveu o poeta moderno Vinícius de Moraes. Do amor, tão motivado em seus sonetos, fez-se a sua busca da felicidade; acredita que esta seria encontrada ao solidificar aquele. Pelo amor ideal, casou-se nove vezes e dizem que vivera pela procura da sua completude. Tempos pós-modernos. A busca da felicidade continua, mas agora geralmente associada ao sucesso profissional, material e ao status do consumo. O amor, talvez encarado como parte desses últimos, tornou-se item complementar a essa busca, e não mais destino final. Nesses tempos, há várias formas de amar e de adquirir amor. À conquista substitui-se outras opções: compra, vende-se, usa-se amor.

Se há algo em comum entre o amor de hoje e o supostamente vivido pelo poeta, é a rotatividade. Adequo-se à sociedade de consumo o uso descartável dos bens; inseridos nessa cultura vive-se o amor instantâneo, "posto que é chama", e facilmente substituível por opções mais atraentes ou promissoras. Na busca frenética pelo sucesso profissional, ou individual, é requisito que o relacionamento seja prático e útil, conveniente em seu papel secundário; complementar e compreensível, líquido e ajustável. Eterno? Não. Esse adjetivo pertence à ficção ou ao antigos contos de fadas.

Não se espera mais pelos príncipes em torres enclausuradas, procura-se por soluções para o amor nas prateleiras das lojas de cosméticos, nos comprimidos para emagrecer, nas concessionárias de carros importados ou simplesmente, nas ofertas dos sites de relacionamentos. No jogo de aparências, atrai-se os mais disputados aquele que mais investirem em sua própria promoção. Amor: lucro, recompensa. Solidificá-lo requer tempo, abstenção, compreensão e envolvimento. Um perigo à racionalidade e ao equilíbrio emocional; inadequado torna-se dependente e comprometer planos individuais... Usá-lo é mais fácil e moderno. Formas superficiais de adquiri-lo, formas superficiais de vivê-lo, para que possa se dizer do amos que teve.

Caso o controle seja perdido e, fora dos planos aconteça de realmente amar, difícil viver um soneto de Fidelidade. Com tantos meios comunicativos, interativos; com tantas tramas de relacionamentos, opções virtuais, perfeitamente artificiais e sedutoras, difícil apostar na segurança da opção única enquanto o mundo prima por quantidade, por liberdade. Pois sim, amar é arriscar mesmo conhecendo a complexidade desse ato em nossos tempos, é optar (quem dirá que foi opção?) pela preocupação, pela inquietante insinuação das redes virtuais, pela falta de privacidade diante da web que testa incansavelmente a confiança. Enquanto a tendência são relacionamentos de prazer, amar intensamente hoje é confuso porque pode fazer sofrer.

Rotativo, conveniente, ajustável, descartável, o amor ideal dos tempos modernos é complexo demais para ser descrito. Deve ser complementar, atraente, prazeroso, desde que não dependente. Será amor? Na sociedade pós-moderna, as formas de adquiri-lo são compatíveis com as do consumir. Teria-se solidificado o amor em bem material diante da vida fluída contemporânea? Aparentemente invertido, Amor líquido se vivido, sólido se comprado, vendido, usado ou consumido. Será tão contrário a si o mesmo amor? Que seja infinito enquanto estiver dentro do prazo de validade.