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Isis Belucci Gomes
Criar Campinas

"Auto-heroicizar"

Zorro, Power Rangers, Mineiros do Chile, Dom Quixote, Lula, Box Vox, pai, Leônidas, Getúlio, Jackie Chan, Jesus Cristo, povo da periferia. O que todos eles possuem em comum? Atos heróicos? Em meio a tantos modelos - supostos representantes de puro altruísmo - é preciso uma revisão da figura do tal herói e de seu papel na contemporaneidade.

Do dicionário: autor de grandes feitos, detentor de grande coragem. Em sua concepção original, o herói é aquele no qual as aspirações e os valores de certos indivíduos realizam-se com plenitude e sucesso, e por isso, ele cativa administradores. Encaixam-se nessa definição Zorro, que lutou contra a dominação espanhola, Tiradentes, inconfidente mineiro - este cujo grande feito foi morrer em nome de seus ideais - além de Jesus, personificação da virtude cristã. São funcionais psico-socialmente, por nutrirem uma esperança profunda e sólida no inconsciente do sujeito, motivando-o a perseverar e desatando uma cadeia extensa de altruísmo. Não existe, porém, herói sem platéia.

O heroísmo clássico foi subvertido na atualidade. Batman, Zorro e Power Rangers em nada são naturalmente benévolos. Portam uma valentia estrelista, artificial, rentável, primeiramente: traz audiência, fama, fãs, dinheiro. Eles propagam valores igualmente produzidos e efêmeros, que se moldam às suas ambições egoístas, travestidos de politicamente corretos. É a manipulação da tragédia cotidiana ao pseudo-lirismo midiático. Mas, já existem tragédias contemporâneas em demasia.

Os protagonistas da real epopéia - a diária - são, mais do que ativos, passivos. Gerados pelas condições do meio, indivíduos ordinários, que não necessariamente superam, mas surpreendem por suportar as adversidades sócio-políticas, morais, econômicas, físicas, naturais, e por continuar o ritmo da vida: povo da periferia refugiados, mulheres no Oriente Médio, soropositivos africanos. Seu altruísmo é prosseguir existindo, como exemplos para a maioria que cogita sucumbir à desgraça humana. "Eu sou herói, só Deus e eu sabemos como dói", já cantava Caetano.

Ao fim, a diversidade heróica remete à desconfiança, e então temos os heróis polêmicos: Getúlio, mineiros do Chile, Jean Wills - O Gay vencedor do Big Brother - e Macunaíma, o herói - anti-herói. Obama e Osama, ainda. Proponho, então: por que não auto - heroicizarmos - nós? Sejamos motivadores de nossa esperança. Afinal, o verdadeiro herói, como condição primária para existir, deve vencer, sobretudo a si mesmo.