Nunca vivemos o presente. Estamos sempre à espera do final de semana, do feriado ou das férias. Jamais estamos atentos ao aqui e agora, então vivemos como Tales de Mileto: somente olhamos para os céus e as pedras no caminho nas quais tropeçamos são as forçosas tarefas que nos impedem de vivermos num feriado constante.
De acordo com Dostoievsky, o homem necessita do insondável e do infinito tanto quanto do pequeno planeta onde habita. Assim, sem a espera pela folga, talvez fôssemos seres ainda mais efêmeros e menos produtivos. E é por isso que o mundo globalizado lança seus olhares nesses tempos de descanso.
Desta forma, o capitalismo prega o final de semana como sendo a recompensa pelo trabalho. Tornamo-nos, então, alienados, alheios ao trabalho. O que realmente nos importa são os nossos aparentes momentos de liberdade, nossa recompensa por servir o sistema.
Vivemos na política do pão-e-circo. O circo é a folga, premiação por sermos como a frase de Erich Fomm "eu sou como você quer que eu seja". Entretanto, de acordo com Lobsenz, através da máscara da alegria se esconde uma crescente incapacidade para o prazer. É por isso que uma folga nunca nos supre.
Assim, buscaremos eternamente as férias. Isso porque o cotidiano nos traz asco por ser forçoso e a folga nos é breve por ser tão efêmera quanto nós. Vivemos num ciclo, num paradoxo em que conseguimos exatamente o contrário do que buscamos.