MELHORES REDAÇÕES DE ALUNOS

Ana Julia Abbud Chierice
Criar Ribeirão Preto

Conto de Fadas sem mérito; sem nada.

Era uma vez uma sociedade que, no embalo dos esforços individuais, alcançava a soberania e a autodeterminação. Quando questionada sobre o modelo pela qual era regida, não hesitava e, de imediato, respondia aos olhares curiosos que a governava atendia pelo nome de Mérito. Vivia. Portanto, em uma meritocracia. Os anos se passaram e o mérito cedeu diante do barbarismo pungente da fama e da corrupção, estando fadado ao abandono; esperando um golpe de misericórdia ou uma súbita e heróica ressurreição.

Vivenciamos, hoje, um quadro de desapego diante das habilidades antes valorizadas e que tinham como premissa indispensável o esforço intelectual. Em meados do século passado, o conhecimento tinha um poder de mobilidade social inigualável. A incursão em uma universidade vinha, certamente, com as recompensas futuras, tanto no que se refere ao conforto financeiro como pela retribuição da sociedade, uma vez eu as conquistas via mérito eram expostas como exemplos morais a serem seqüenciados. Atualmente, apontamos a meritocracia como o caminho mais longo e exaustivo e, nesse aspecto, desvirtuamos da opção escolhida pelas sociedades orientais em geral, que devidamente glorificam o empreendimento educacional. Quem sabe, em um futuro próximo? Talvez.

Com a vida cotidiana cada vez mais dinâmica e flexível, a divulgação de ideias prontas e imagens pré-estabelecidas foram avolumando-se, difundo aquilo que se deveria seguir como exemplo. Dessa forma, o status e a fama passaram a integrar o conceito de ascensão social, deixando à margem o destaque individual e a proficiência. Além disso, a superexploração midiática estabelecida em função de personagens criados na televisão proporcionou uma valorização exagerada do ambiente e da vida de celebridade; muitas vezes por mostrar que as ascensões pessoais vieram como dádivas. Eles são observados a todo tempo; são eles esses e aqueles jogadores de futebol; o belíssimo ator da novela das nove; a dançarina que aparece nos programas aos domingos. "Quem sabe você não pode ser um deles?" Trocamos o "self-made-men" por reproduções pobres e ilusórias.

A meritocracia encontra também uma forte oposição diante de outro aspecto tipicamente brasileiro: a corrupção generalizada. Em um primeiro plano, pode-se dizer que a política brasileira é majoritariamente avessa à questão do mérito. Os governos se baseiam e se sustentam sobre figuras imorais, cidadão privilegiadas que, em uma generalização bem realista, ascenderam social, político e financeiramente à custa de promessas e articulações corrompidas. Tal conjuntura, por sua vez, não deve ser considerada uma lacuna dentro da sociedade brasileira, mas sim uma contigüidade. Afinal, a corrupção estende-se, historicamente, ao comportamento individual, à medida em que supervaloriza máximas como o vergonhoso "jeitinho brasileiro".

Embora a noção de mérito tenha sido usurpada e corrompida dentro da nossa sociedade, ainda existem lampejos que apontam tentativas de reaver o modelo que faz jus aos esforços individuais. Esperamos que a futura elite intelectual, que hoje luta por vagas e espaço nas universidades, contribua para essa reconquista. Assim, nessa esperança, ainda não enterramos, de feito, a meritocracia. Digamos apenas que a estamos velando enquanto ainda perdura a era da iniquidade; certos de que o mais puro e verdadeiro ósculo de intelectualidade venha despertar o rei dos reis.