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Clara Martinuze Martins
Criar Ribeirão Preto

O lazer Sísifo

Dicionários trazem como definição para lazer como o tempo que sobra do horário destinado as obrigações diárias. Entretanto, a maioria das pessoas são verdadeiras "Bertolezas" sustentando o mundo com uma força titânica. O duelo entre trabalho e lazer estabelece relações inversamente proporcionais, sendo este último existente apenas nos dicionários.

2h. Desde a infância somos condicionados a aliar a ideia do trabalho à proteção. O porquinho que mais trabalhou não tem sua casa destruída. A formiga que trabalha no verão colhe seus resultados no inverno. O trabalho já dado ao homem como forma de punição e é hoje um dos únicos meios para se garantir a proteção. Valendo-se disso, muitos foram obrigados a carregar poucos nas costas, da mesma forma como Atlas, na mitologia, foi obrigado a segurar o mundo eternamente.

4h. Em seu livro "O ócio Criativo", Domenico de Masi escreve "aquele que é mestre na arte de viver faz pouca distinção entre seu trabalho e o seu tempo livre". A ideia de proteção torna-se evidente nessa passagem a medida que se (con)funde o tempo destinado ao trabalho ao lazer. Mesmo na hora do ócio há propagandas nos lembrando da necessidade de trabalhar. E, por isso, não pensamos em questionar. O trabalho adere fórmula fordista, sustenta apenas alguns poucos privilegiados e evidencia-se, muitas vezes, como um espaço desnecessário.

18h. Desnecessário à medida que os maiores privilégios muitas vezes não são os trabalhadores. Marx, no auge da Revolução Industrial e das lutas pela defesa das famosas (e utópicas) 8 horas de jornada de trabalho, acreditava que as máquinas, um dia, fariam todo esforço e o trabalho humano não seria mais necessário. Isso, infelizmente, não aconteceu. Com o avanço da tecnologia tornamo-nos prisioneiros do trabalho: emails e ligações consomem grande parte do tempo livre. As guerras, portanto, tornam-se resposta ao cansaço biológico. O esforço de rolar a pedra e ela sempre voltar.

2 horas destinadas ao lazer. 4 horas para dormir. 18 horas no trabalho. A relação estabelecida é inversamente proporcional. Caso seja necessário, o ócio será oculto, o trabalho dobrado, e o beneficiado pode não ser o trabalhador. Desde a infância somos condicionados a ver trabalho como salvação. Somos dominados por um sentimento de culpa em cultivar o ócio e relembrados disso pelo simples ato de nos deparar com uma propaganda. A tecnologia que deveria nos libertar, nos prende, fazendo com que o lazer não saia do dicionário. Fomos atados ao trabalho assim como Sísifo foi eternamente atado à sua pedra.