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Matheus Pippa Defino
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Inverno de 500 anos

O nativo indígena, habitante das terras brasileiras desde muito antes da ocupação portuguesa, logicamente merece o apoio necessário à preservação dessa raiz cultural por parte do Estado e dos cidadãos; correto? Sim, porém somente em tese. Na prática, o que se observa é a marginalização desse povo, o qual, por não se adaptar ao modelo capitalista, relaciona-se com a sociedade de modo equivalente à cigarra e à formiga da fábula de La Fontaine.

Segundo a Constituição Brasileira de 1988, o direito é diferenciado dos demais devido à sua singularidade cultural. Sendo assim, foram determinadas garantias inerentes à sua preservação diante da realidade contemporânea. Contudo, basta observar a condição de tribos como a Guarani-Kaiowá para se compreender a ineficiência do poder público nesse processo. Tal fato denuncia a falta de perspectiva dessas "cigarras" e sua dependência de ajuda num contexto do qual estão desconexas.

Dessa forma, como é proporcionada essa ajuda? No âmbito governamental, age--se segundo a máxima de Maquiavel: "em política o importante não é ser, mas aparentar ser", contanto o Estado não busca, de fato, suprir as necessidades básicas do indígena, mas sim garantir paliativos capazes de mascarar seu descaso. Já no aspecto populacional, pode-se apontar o auxílio ao índio como sendo, friamente, um incômodo à propriedade do latifundiário e ao "bolso" da população urbana pagante de impostos.

Como resultado, a falta de interesse verdadeiro na preservação cultural - visão típica do processo de globalização - manterá o índio num quadro de exclusão social. ou seja, o inverno dessas "cigarras" é constante, e as "formigas" que poderiam salvá-la não abrem mão de suas posses para fins irrelevantes à sua realidade. Isso significa a continuidade da violência, da falta de atendimento à saúde e da falta de investimentos: fatores os quais, a longo prazo, contribuem para o desaparecimento das tribos indígenas.

Não visto como um cidadão com acesso a direitos - embora diferentes -, o índio é marginalizado e tratado sem dignidade. A economia capitalista mostra-se como fator de exclusão dos indígenas, e a lógica da globalização não fornece incentivo à preservação cultural. Resta afirmar, portanto, que os índios no Brasil são cigarras fadadas a um inverno rigoroso.