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Mariana Morais Carvalho
Criar Ribeirão Preto

Teatro temeroso e natureza casmurra

D. Casmurro: a personificação do medo. Temores diversos o espiavam: o da traição, o da manutenção das aparências, o do desconhecido mundo místico. Tanta apreensão fez dessa personagem um mero ator. Encenava paráfrases da peça "Otelo" de Shakespeare ao invés de viver. Nada mais era espontâneo, nem mesmo sua consciência, que necessitou escrever um livro para se convencer de que a culpa não era própria. O ser humano tem uma natureza casmurra e medrosa, entretanto ela se torna paulatinamente incontrolável no mundo contemporâneo.

Suposições são constantes em nosso cotidiano e elas despertam absurdas opiniões, distorcem realidades. Assim como Bento Santiago jurava ter sido traído por Capitu, as classes altas afirmam que bairros pobres e favelas são zoológicos sociais. Lá, habitam os piores tipos sociais, responsáveis pela tortura subconsciente que ameaça a segurança do conto de fadas da classe média. Todavia, não são responsáveis pela total criminalidade brasileira nem podem ser generalizados de tal maneira. Além disso, os detentores de dinheiro afirmam esses dados baseados em olhares preconceituosos.

Outro temor é a opinião alheia. O "boom" de grifs e de academias de ginástica comprovam quanta importância é dada ao que o outro vê e sua respectiva avaliação. A falsa moral burguesa é outro aspecto muito teatral e temido. Famílias inteiras demonstram firmeza de caráter, enquanto são, na verdade, livres dele. Exemplo dessa falsidade é o crime da jovem paulistana Suzane, que, com o namorado, arquitetou a morte dos pais enquanto parecia ser uma linda filha da família abastada. Bento Santiago também representou ao mandar Capitu e Ezequiel para a Europa. Teve medo da reação social.

Fugindo do mistério da religiosidade cristã e temendo a opinião de Capitu, Bentinho desistiu do seminário. No que diz respeito à religião, o homem a anula ou se agarra fielmente a ela. Cruzadas e Guerras Santas foram empreendidas, na tentativa de conquistar uma certeza de salvação no "além". Martirizadas, virgens esperam pelo homem no paraíso ou a salvação da alma é garantida. Nessa luta, civilizações inteiras pautaram seus cotidianos (na luta e) no medo. O Oriente Médio o faz e americanos instalam o medo no mundo para, através de conflitos, acabar com os seus estoques bélicos e estimular a indústria.

Pautados em mistérios, vivemos de maneira paranóica na tentativa de controlar o desconhecido. Medos fazem parte de nossa rotina, mas não nos acostumamos a eles, reagimos de forma irracional, desesperamo-nos no caos e é nessa atmosfera descontrolada que movimentos extremistas, como o fascismo, surgem. Tememos o futuro e por isso, apegados ao passado e medrosos (com o futuro) reproduzimos a casa de Matacavalos, porque queremos os mesmos medos, as mesmas experiências e os mesmos motivos para viver: o medo e o mistério para encenarmos.