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Mariana Martins Ferreira
Criar Ituverava

Dar o queijo sem a faca

Sobre nossos formadores, acredito serem os pais os principais. Fruto de uma sociedade tão diferente da atual, eles se preocupam em dar-nos o que lhes faltou, diz o senso comum. A sabedoria popular, contudo, não nota que, fazendo isso, os pais esquecem-se de dar também o que tiveram.

Em junho de 1972, o mundo deu um gemido de horror: foi divulgada a foto da menina vietnamita queimada por napalm, correndo, vestindo senão o medo. Com 11 anos, meu pai, ao perguntar a meu avô o que estava acontecendo, ouviu que não poderia entender. Dessa forma, sua curiosidade - tão própria das crianças - foi acionada e fê-lo buscar sozinho a resposta nos jornais, na escola.

Quase trinta anos depois, o mundo prende a respiração novamente. Pela televisão, no dia 11 de setembro de 2001, assisti, ao vivo, ao segundo avião mergulhando nas Torres Gêmeas. Também com 11 anos, não tive, porém, sequer tempo de perguntar a meu pai sobre o que havia acontecido. Ele logo me explicou, mostrou-me o mundo, a política e o terror.

Fazendo o oposto do que fizera meu avô, tirou-me a curiosidade. Entretanto, essa explicação me foi dada tão de imediato por ter coincidido ser horário de almoço, quando os pais estão presentes. Os meus e muitos outros, nas outras horas do dia, trabalham e se ausentam, tentando garantir-nos a melhor escola, o brinquedo desejado, o curso de inglês, aspectos ausentes em sua própria infância.

Assim, ausentando-se do lar, quase não têm tempo de educar os filhos, cegos por fazer o melhor. Não mais incitam-nos a curiosidade, a vontade de conseguir algo sozinhos, dando-nos a faca e o queijo já cortado. A medida, pois, seria equilibrar a educação que receberam com a que desejam dar, dando aos filhos o queijo, mas deixando que procurem a faca.