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Lílian Darlene Belotti
Criar Ribeirão Preto

As memórias de uma praia

O céu, azul profundo, as árvores e a grama de um outro verde, misturado com os raios de sol inclinados. Tudo, fica pungente para catadores de lixo em um aterro. Então, com o pasmo essencial que tem uma criança ao nascer, reparam no lixo à procura de algo exótico, que sustente o corpo, alimente o inaudito e se torne notório para toda a massa presente. Dentre tantas excentricidades vemos um tal Big Brother, um Orkut ao lado de um pneu velho, uma novela em cima de bonecas sujas e sem cabeça, tem também um programa de rádio perto de um vaso sanitário quebrado. A ética dos diversos meios de comunicação é, não raro, nada mais que lixo, espuma de praia.

A mente humana funciona como uma grande praia. Todos os dias surgem pragas de homens e mulheres que violentam a areia e a água de diferentes maneiras. Tais fatos verossímeis importunos são os diversos meios de comunicação: televisão, internet, jornais, revistas e tantos outros. Estes mostram notícias do mundo, informam sobre as condições do tempo, mostram as cotações do dólar, mas contribuem, quase sempre, para alienar os receptores das mensagens. Tanto que, no Brasil, depois de tantos escândalos veiculados, corrupção tornou-se sinônimo de política e Edir Macedo representa o pedágio para o paraíso.

Todavia, ocorrências brasileiras reais e constantes de corrupção impedem que o brasileiro veja que ela não mora só no Brasil, é uma pandemia social. A faculdade moral de cada ser é um "instinto". Um conjunto de princípios elementares comuns, como não matar. Tal impulso é modulado pelas emoções, pelos familiares, pela força repressora do Estado. Mas, de fato, é da condição humana flutuar para o descontrole instintivo no pensamento. Isso ocorre quando assistimos "reality shows", que evidenciam a rotina e as confabulações por um prêmio, ou mesmo ao assistir cenas de tortura ou exploração a qualquer tipo de ser vivo. Um desequilíbrio que aparece com os pensamentos solitários, à noite, ao subir da maré.

Algumas ações anti-éticas alcançam o plano da prática. O que emerge é uma população que admite pequenos delitos: compra de produtos piratas, baixar músicas na internet sem pagar por elas, ultrapassar o sinal vermelho, vender votos. Verdadeiros paradoxos morais julgáveis apenas por meio das consequências que produzem. São boas as ações que articulam bons resultados. Assim, no passado, saímos da vida platônica e instintiva que se projetava nas paredes das cavernas para a intelectualidade desenvolvida das civilizações que, agora, lançam nos céus da modernidade curiosidades sobre a vida primária dos homens da Pré-História.

Quando falamos de ética esquecemos que isso não passa de uma atmosfera ilusória. Entre estes não há fraternidade, existem sócios: o prazer não tem começo e a tristeza não tem fim: o importante é vender. Para nós, seres humanos, o princípio mais profundo da natureza é o desejo ardente de conciliar pequenos deslizes ilícitos ou anti-éticos com uma vida pacata. Nesse compêndio, é espantoso ver, pela manhã, que a praia é uma pele lisa e sem cicatriz. Pois assim mesmo somos nós e os veículos de massa: tudo será esquecido e nossa ética será também, como a dos meios, a espuma das praias, o lixo dos aterros.