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João Paulo Pádua
Criar Ribeirão Preto

Confusão de ponteiros

O movimento dos ponteiros de um relógio denota tempo decorrido. A direção do ponteiro de uma bússola denota direção. O relógio diz respeito à urgência; a bússola à importância. "O tempo é inimigo da perfeição", logo mais importante que a velocidade com que estamos nos locomovendo é a direção que estamos tomando. A sociedade moderna se esqueceu da bússola, se utilizando apenas do relógio. Isso faz com que os ponteiros do relógio se confundam entre urgência e importância.

Diante da confusão de ponteiros, o importante se tornou urgente, e o urgente importante. Direções a serem trilhadas e alcançadas no menor tempo possível se tornou comum no mundo globalizado das grandes corporações, e essa pressa passou a refletir no cotidiano do cidadão comum. Com isso o "Project c'est la vie", de Sartre, parece ter se desmantelado junto aos relógios de Dalí; e no lugar deles visores digitais desmantelam, com uma rapidez cada vez maior, o tempo; fazendo a urgência parecer comum.

O desmantelamento do tempo por novas tecnologias, junto a infindáveis direções; requer respostas cada vez mais rápidas, seja por um e-mail de trabalho, ao telefonema de um familiar ou resposta de um amigo à sua mensagem. Realmente são tempos de "rapidinhos" e "fast-food". Queremos soluções imediatas, atenção a todo o momento, e entregas e respostas rápidas; predicativos esses que caracterizam a "Geração Delivery". Porém para essa geração, falta espaço para a espera e o amadurecimento.

Bebês quando choram, na maior parte das vezes, estão com fome ou com necessidades fisiológicas que requerem a devida atenção. O choro representa a urgência, e acompanha os ponteiros do relógio de seus progenitores. À medida que crescemos, deixamos de ser urgentes, afinal deixamos de chorar como bebês. Porém a falta de espaço ao amadurecimento mantém o urgente na mente dessa geração das rapidinhas e os vários pedidos de atenção/urgência devido os diversos desafios oriundos das infindáveis direções oferecidas substituem o choro de outrora, nos dando a falsa impressão de sermos importantes.

"O tempo não para" e a impressão da importância fazem com que o importante não possa fica para depois. Logo, com a confusão de ponteiros, o urgente se sobrepôs ao importante e ambos se tornaram urgente. Talvez pelo ritmo frenético da vida moderna, talvez pela velocidade das novas tecnologias e visores digitais, ou ainda, talvez pela falta de amadurecimento, sentimo-nos importantes e necessitamos sempre da urgência. Porém, na medida em que tudo se tornou urgente, nada mais é urgente, além do choro de bebês.